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A Oração como um voto de Vassalagem a Deus

Quando rezamos, costumamos juntar as mãos e apontá-las juntas aos céus. Esta posição corporal, assim como aquilo que é recitado, é uma oração a Deus; certamente silenciosa com seu significado que remonta à espiritualidade da Idade Média. Numa época em que o amor de Deus reinava nos corações dos homens, época de submissão à voz de Deus e ao amor à hierarquia humana que simbolizava a hierarquia divina, surge a consciência de unir dois juramentos, o da terra e do céu.
O Juramento de Vassalagem na cerimônia de investidura do novo Cavaleiro
Vassalagem e o juramento do novo cavaleiro
A vassalagem, uma das instituições fundamentais da sociedade feudal medieval, é caracterizada por uma relação pessoal de fidelidade e proteção entre um senhor e seu vassalo. Esse vínculo não se limitava apenas aos aspectos militares e econômicos, mas permeava profundamente o relacionamento humano, a vida social e religiosa da época.
A cerimônia de vassalagem, rica em simbolismo, revela como esses laços eram formalizados e reforçados.
A vassalagem era um rito solene que consolidava o vínculo entre o senhor feudal e seu vassalo. O vassalo ajoelhava-se diante de seu senhor, com o cinturão desfeito e as mãos postas em gesto de submissão e entrega. Esse ato de colocar as mãos juntas, uma dentro da outra, simbolizava uma entrega total e incondicional, um gesto de profundo significado. Seguia-se o juramento, onde o vassalo prometia lealdade e serviço ao senhor, muitas vezes sobre os Evangelhos ou relíquias sagradas, tornando o ato um sacramental de honra e fé. Este juramento era inviolável, e a quebra dele era considerada uma desonra monstruosa, refletindo a seriedade com que a palavra dada era tratada. Finalmente, o senhor conferia ao vassalo a posse do feudo através de um gesto simbólico, como a entrega de uma vara ou bastonete, representando a autoridade que o vassalo exerceria em nome do senhor.
O Crisma: A Vassalagem a Deus e o novo cavaleiro de Cristo
A cerimônia de vassalagem é uma pálida imagem do sacramento do Crisma, que é o verdadeiro voto de vassalagem. O fiel recebe o sacramento da confirmação, sendo ungido e fortalecido pelo Espírito Santo para se tornar um soldado de Cristo.
Ambos os ritos envolvem a prestação de um juramento solene, a imposição das mãos e um compromisso de lealdade e serviço. Na Crisma, o bispo impõe as mãos sobre o crismando, simbolizando a transmissão do Espírito Santo e o fortalecimento na fé. De maneira similar, o gesto de colocar as mãos nas do senhor durante a cerimônia de vassalagem representa uma transferência de proteção e lealdade.
Cavaleiro rezando com as mãos postas
O juramento feito pelo vassalo, muitas vezes em nome de Deus e sobre os Evangelhos, assemelha-se ao compromisso do crismando de viver de acordo com os ensinamentos de Cristo e da Igreja. Em ambos os casos, a palavra dada é um pacto sagrado, onde Deus é o soberano por excelência que testemunha e valida o juramento. Tanto o vassalo quanto o crismando são chamados a uma vida de fidelidade e serviço. O vassalo serve seu senhor feudal, defendendo suas terras e protegendo seus interesses, enquanto o crismando serve a Cristo, defendendo a fé e promovendo a justiça e a caridade, conquistando as almas e defendendo-as nesse terreno espiritual, neste feudo divino.
O tapa no rosto e o nascimento de um varão
Terminado o juramento e sendo armado, o novo cavaleiro recebia um tapa no rosto para simbolizar que não era mais um menino, mas um homem; a Santa Igreja adotou o mesmo costume no crisma. Para simbolizar o nascimento de um varão, um cavaleiro, que é todo católico completo, ou seja, crismado, ele também recebe um tapa após receber o Espírito Santo. Já não é mais um menino, mas um homem, um varão católico!
Rezar com as mãos postas
O gesto de colocar as mãos juntas durante a cerimônia de vassalagem é profundamente simbólico, é a renovação das promessas feitas e das indulgências recebidas. È um jeito de estreitar o vínculo com seu senhor. Ora, o católico deve rezar de mãos postas para que seu corpo fale o que as palavras não dizem, que é a renovação e a expressão de sua fidelidade na luta pela causa de Nossa Senhora e da Santa Igreja!
Este gesto simbolizava a entrega e submissão total ao senhor feudal por excelência que é Deus. Ao prestar juramento, o vassalo de Cristo se compromete com seu Senhor, com o Soberano Supremo.
Soldado de Cristo
A relação entre o juramento de vassalagem e a confirmação cristã reforça a ideia de que a lealdade e a proteção são valores sagrados, transcendendo as meras relações humanas para tocar o divino. Assim, o sistema feudal, com todas as suas complexidades e particularidades, também serviu como uma extensão da fé cristã, onde os vínculos pessoais eram elevados a compromissos espirituais.
A vassalagem na Idade Média era muito mais que uma simples relação de dependência econômica ou militar; era um vínculo pessoal, familiar e afetivo, profundamente enraizado na fé cristã. As cerimônias que formalizavam essa relação refletiam a sacralidade do compromisso e a centralidade de Deus como o soberano último. Ao estudar esses ritos, podemos compreender melhor a profunda relação entre a sociedade feudal e a espiritualidade católica, onde a lealdade e a proteção não eram apenas deveres humanos, mas também mandamentos divinos.