Desde a fundação do Brasil, a fé sempre esteve presente. Nossa nação era chamada de Terra de Santa Cruz não à toa, pois a Ordem de Cristo fundou o nosso país (as velas das naus eram brancas com a cruz templária vermelha).
Um dos episódios mais importantes da nossa história certamente se deu com a libertação dos escravos. Escravidão é algo que atenta contra a doutrina da Igreja, mas que pelo neopaganismo renascentista e outros fatores voltou a ser adotado até o final do século XIX.
Monarquia e fé católica
Como todas as monarquias, o império brasileiro é uma herança direta da Idade Média, quando a Igreja estava unida ao Estado, portanto, a fé católica unida ao Império do Brasil.
Assim como a moralidade deve reger o homem, a Santa Igreja deve guiar os Estados para que, acima de seus deveres propicie a salvação das almas; neste sentido a relação entre o Monarca e Deus deve ser uma relação constante e sagrada. Na família, o pai tem Deus como guia, a esposa tem o marido como norte e os filhos sua mãe; de modo análogo, é a relação entre a Santa Igreja e os Estados.
Neste sentido há na história do nosso país um recorte imponderável: a relação que teve a princesa Isabel com Nossa Senhora.
Relação entre a Princesa Isabel e Nossa Senhora
Em um período marcado pela tensão em torno da abolição da escravatura, Nossa Senhora serviu como um sinal divino que guiou a nação e a Princesa Isabel em sua missão de libertar os escravos.
Tirada do rio Paraíba, em 1717, por humildes pescadores – gente do povo que amava o trabalho e a religião – começaram a venerá-la, invocando-a em suas necessidades. Nos humildes e pobres pescadores e na imagem enegrecida e machucada o povo brasileiro viu-se identificado, como se tudo isto fosse cópia de sua própria vida e existência. Foi um amor à primeira vista, pois Filipe Pedroso, ao contemplar a pequenina imagem, que segurava nas mãos, exclamou: “Minha Nossa Senhora Aparecida!”.
Tipologia original da Imagem
A imagem original de Nossa Senhora Aparecida foi descrita como policromada, com a pele do rosto e das mãos brancas, um manto azul escuro e forro vermelho granada, conforme determinação de Dom João IV em 1646. A imagem ficou escura devido à lama do fundo do rio, simbolizando que Nossa Senhora se fez negra para libertar os escravos. A tradição de adornar a imagem com coroas e mantos, registrada desde 1750, continua até hoje.
Apelo de uma mãe a Mãe dos céus
A Princesa Isabel, que desejava ardentemente ser mãe, fez uma promessa em 1868 na Basílica de Aparecida: se conseguisse engravidar, ofereceria um manto a Nossa Senhora. De fato foi atendida e o manto foi dado de presente à Santíssima Virgem no mesmo ano.
A Princesa obediente às ordens da Rainha dos Céus
Diferentemente de Luís XIV, que desobedeceu ao apelo feito pelo Sagrado Coração de Jesus de consagrar a França ao seu Sagrado Coração, por causa dessa desobediência foi permitido mais tarde por Deus a queda de sua linhagem pela Revolução Francesa, a princesa Isabel obedeceu ao apelo de Nossa Senhora.
Apesar da forte oposição da elite cafeeira e da maçonaria (filhos e propagadores da Revolução Francesa), a Princesa Isabel, inspirada pela intervenção divina de Nossa Senhora, perseverou em sua missão.
Quando eles ameaçaram derrubar a Monarquia (como de fato o fizeram) provocando-a dizendo: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”, a princesa retrucou com determinação: “Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil”.
A Lei Áurea foi votada e aprovada em 13 de maio de 1888 (que por providência seria mais tarde a data da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima); a escravidão foi oficialmente extinta no país, libertando cerca de 700 mil escravos em uma nação de 15 milhões de habitantes.
A Rosa de Ouro e a Princesa Isabel
Em 28 de setembro de 1888, o Papa Leão XIII concedeu o presente da Rosa de Ouro à princesa, em reconhecimento à abolição da escravatura. Esta comenda pontifícia simboliza o reconhecimento do Papa por um feito notável, digno do regozijo de toda a Igreja por parte de uma autoridade temporal. A Princesa Isabel foi a única brasileira a receber essa honraria, enquanto outros dois exemplares foram dedicados à Basílica de Nossa Senhora Aparecida pelos Papas Paulo VI (1965) e Bento XVI (2007).
A Luta pela Abolição e a Queda da Monarquia
Após assinar a Lei Áurea e sabendo que seria impedida de assumir o trono do Brasil por parte dos agentes revolucionários, a princesa se precaveu e em 6 de novembro de 1888 enviou uma réplica da coroa que usaria como rainha em tamanho menor junto com um bilhete a Nossa Senhora Aparecida com as exatas palavras a seguir:
“Eu, diante de Vós, sou uma Princesa da terra e me curvo, pois és a Rainha do Céu e Te dou tão pobre presente que é uma coroa que seria igual à minha, e se eu não me sentar no Trono do Brasil, rogo que a Senhora se sente nele por mim e governe perpetuamente o Brasil”.
O golpe contra Nossa Senhora e a Vitória dela como Imperatriz
Em 15 de novembro de 1889, um golpe de Estado liderado por militares instaurou a República no Brasil. Entretanto na esfera espiritual esse golpe não foi dado na família imperial, mas em Nossa Senhora uma vez que a Princesa Isabel entregou o trono do Brasil à Ela antes do golpe ser dado, reconhecendo-a como a verdadeira Imperatriz do país. Este ato da princesa também ratificou o desejo da abolição da escravatura por parte de Nossa Senhora (tanto é que ela apareceu negra sendo que estudos mostram que a imagem era originalmente branca); portanto, o golpe republicano foi uma afronta ao poder espiritual e temporal; tanto foi assim que ao ser escrita a Constituição foi mantida como cláusula pétrea (emenda constitucional) uma linha que dava direito a um plebiscito futuro, porque o povo nunca quis um regime republicano; a maior prova disso foi o plebiscito feito no ano de 1993.
Confirmação da vitória espiritual
A coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida só ocorreu em 1904, dezesseis anos após a Princesa Isabel ter ofertado a coroa à santíssima Virgem.
Em 1930, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil.
Nossa Senhora Aparecida continua a ser a figura central em seu império, celebrada em 12 de outubro, feriado nacional. Seu papel como Imperatriz do Brasil reflete a profunda devoção do povo e a história de libertação que marcou nossa história e que certamente tem relação com nossa missão enquanto nação em tempos vindouros!
Poema
Pela nossa devoção a Nossa Senhora, e em respeito a esta memória de nossa nação, dedicamos a Ela o poema de nossa autoria a seguir:
Às margens do rio Paraíba,
Pescadores humildes, em devoção e labor,
Encontraram na lama uma imagem enegrecida,
Nossa Senhora Aparecida, símbolo de redenção.
A coroa que a Princesa ofertou,
Gesto de fé e devoção, no altar repousou,
Ela, além de princesa, mãe da nação,
Ofertou à Virgem seu reino em fervoroso apelo.
A luta foi além dos altares e coroas,
Quando a Princesa enfrentou poderes opositores,
Pela abolição que libertou os cativos,
Num Brasil onde trabalho e fé eram vivos.
“Mil tronos eu daria”, respondeu com firmeza,
Àqueles que duvidavam de sua grandeza,
Pois seu trono não era terreno, mas celestial,
Onde Nossa Senhora reina, soberana e imortal.
Assim, sem coroa de ouro ou de prata,
A Princesa Isabel, com coragem insuperável,
Ofertou à santa mãe o que de mais precioso tinha,
Sua fé, seu amor, sua coroa e seu destino.
O golpe da República foi desferido,
Contra uma nação que em Nossa Senhora via seu porvir.
A vitória da Virgem foi plena,
Pois hoje o Brasil se curva à santa,
Na imagem negra que o rio revelou,
Nossa rainha prenunciando seu reino como nosso destino!
Bibliografia Consultada
- Galanti, Pe. Raphael. História do Brasil. Vol. 5. Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2023.
- Fausto, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.
- Schwarcz, Lilia & Starling, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.