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Música Gregoriana: Estados de Alma refletidos em impostações musicais

O canto gregoriano é uma forma musical litúrgica que remonta à Idade Média, tendo sido preservado e transmitido ao longo dos séculos dentro da tradição da Santa Igreja Católica.
Uma das características mais marcantes desse repertório sagrado são os oito modos gregorianos, cada um identificado por algarismos romanos, que conferem às melodias expressões e atmosferas únicas. Os medievais, em sua sabedoria, entendiam que o som poderia representar estados de Alma, pois o som das palavras refletem modos de ser, intenção e impostação de alma, enquanto o conteúdo lógico do que é dito reflete a essência de algo. Nesse sentido o som toca o coração e a mensagem, o intelecto.
Os modos gregorianos, herança preciosa do canto litúrgico medieval, encantam por sua profundidade e simplicidade, sendo uma arte musical que ultrapassa as fronteiras do tempo, tocando a alma e despertando a fé dos ouvintes. Cada modo do canto gregoriano conta uma história espiritual única, sacralizando os ambientes e as almas conforme as nuances dos tons, fazendo-nos transcender as coisas desta vida e alocando-nos em estados de espírito vivos e bem variados.
I. O primeiro modo, conhecido como “Gravis”, transmite grandeza e enérgica firmeza, expressando a maturidade adquirida e a devoção convicta.
II. No segundo modo, intitulado “Tristis”, a humildade e a dramaticidade da existência humana são expressas com compunção, meditando sobre os sofrimentos de Cristo.
III. Já o terceiro modo, o “Misticus”, revela um caráter misterioso e ardente, exigindo uma postura interior de contemplação.
IV. O quarto modo, denominado “Armonicus”, surpreende com sua riqueza de interioridade e sua capacidade de exprimir suave confiança e íntimas reflexões.
V. No quinto modo, o “Laetus”, a alegria é proclamada de forma discreta e triunfal, alimentando a alma com seus tons festivos.
VI. No sexto modo, o “Devotus”, revela a simplicidade e a doçura da devoção, transmitindo a serenidade e o abandono ao divino.
VII. O sétimo, “Angelicus”, é transparente e alegre, elevando-se nas alturas com entusiasmo.
VIII. O oitavo modo, o “Perfectus”, é opulento e solene, representando uma plenitude musical em sua expressão triunfal e recolhida.
Neste artigo, iremos explorar detalhadamente cada um desses modos, baseando-nos em suas características distintas, bem como apresentar uma lista de dez exemplos de músicas gregorianas para cada modo.

Modo I – Gravis
Este primeiro modo pode ser descrito como o modo da maturidade adquirida. Transmite grandeza, firmeza e devoção sem adocicamento. É capaz de expressar as grandes realidades e a Fé convicta. Quando a melodia sobe, não possui a sonoridade do oitavo modo, mas mantém a certeza e a convicção. Exemplos de músicas gregorianas no primeiro modo incluem:
• Kyrie Eleison
• Gloria in Excelsis Deo
• Pater Noster
• Te Deum Laudamus
• Alleluia Pascha Nostrum
• Credo in Unum Deum
• Veni Creator Spiritus
• Salve Regina
• O Salutaris Hostia
• Ave Maria
Modo II – Tristis
O segundo modo expressa humildemente a condição do homem pecador e a dramaticidade da existência humana. Medita compungido sobre os sofrimentos de Cristo. Quando a melodia sobe, também é capaz de expressar a tranquilidade e a certeza de poder ascender a um alimento espiritual substancioso. Exemplos de músicas gregorianas no segundo modo incluem:
• Stabat Mater
• Miserere Mei
• Adoro Te Devote
• Media Vita in Morte Sumus
• O Crux Ave
• Parce Domine
• Salve Regina Mater Misericordiae
• Vexilla Regis
• Ave Regina Caelorum
• Tantum Ergo Sacramentum
Modo III – Misticus
O terceiro modo pode ser descrito como misterioso, místico e maravilhoso. Possui uma exuberante riqueza e é fundamentalmente calmo, doce e sereno. O ardor ressalta tanto na súplica insistente quanto no estupor da contemplação. É um modo difícil de ser executado, exigindo uma impostação da voz e uma disposição de espírito adequada. Exemplos de músicas gregorianas no terceiro modo incluem:
• Ave Maria
• O Filii et Filiae
• Victimae Paschali Laudes
• O Quanta Qualia
• Veni Sancte Spiritus
• Ecce Sacerdos Magnus
• Ubi Caritas et Amor
• O Magnum Mysterium
• Veni Creator Spiritus (versão do modo III)
• Ave Maris Stella
Modo IV – Armonicus
O quarto modo é rico em interioridade e exprime uma suave e amável confiança ou uma íntima reflexão. Perscruta e continua a contemplar, sempre com algo mais a dizer, buscando exprimir o inefável. É capaz de entusiasmar-se e tornar-se quase lírico, mas foge das manifestações, preferindo permanecer discreto, doce e amável. Exemplos de músicas gregorianas no quarto modo incluem:
• Salve Mater Misericordiae
• Verbum Supernum Prodiens
• Rorate Caeli Desuper
• O Esca Viatorum
• Jesu Dulcis Memoria
• Ave Verum Corpus
• Ave Regina Caelorum (versão do modo IV)
• Pange Lingua Gloriosi
• Ad Regias Agni Dapes
• Regina Caeli
Modo V – Laetus
O quinto modo expressa uma alegria discreta, afirmada com simplicidade ou triunfalmente proclamada. Mantém seu andamento triunfal sem esforço. Embora pareça menos interior e menos confidencial que os outros tons, é capaz de criar e alimentar a alegria, despertando o espírito. Exemplos de músicas gregorianas no quinto modo incluem:
• Jesu Redemptor Omnium
• O Salutaris Hostia (versão do modo V)
• Ad Coenam Agni Providi
• Angelus Ad Pastores Ait
• O Gloriosa Virginum
• O Lux Beata Trinitas
• O Magnum Mysterium (versão do modo V)
• Rorate Caeli Desuper (versão do modo V)
• Vexilla Regis (versão do modo V)
• Te Deum Laudamus (versão do modo V)
Modo VI – Devotus
O sexto modo pode ser descrito como simples, com poucos recursos, mas profundo. Possui uma tessitura restrita e um recitativo calmo e ligeiro, com ornamentos simples e suaves. Expressa a devoção suave com entusiasmo discreto, revelando o calor interior de forma contida. É o modo da piedade, da confiança filial, da infância espiritual e do santo abandono. Exemplos de músicas gregorianas no sexto modo incluem:
• Ave Maris Stella (versão do modo VI)
• O Filii et Filiae (versão do modo VI)
• Adoro Te Devote (versão do modo VI)
• Jesu Dulcis Memoria (versão do modo VI)
• Rorate Caeli Desuper (versão do modo VI)
• O Salutaris Hostia (versão do modo VI)
• Salve Regina (versão do modo VI)
• Verbum Supernum Prodiens (versão do modo VI)
• Ubi Caritas et Amor (versão do modo VI)
• Tantum Ergo Sacramentum (versão do modo VI)
Modo VII – Angelicus
O sétimo modo é transparente, simples, sem artifícios e de uma juventude sem complexos. Exprime uma alegria elevada que se ergue ao agudo, mantendo-se sem esforço nas alturas. É o modo que convém aos grandes temas, aos grandes movimentos, às exclamações viris e aos acontecimentos cheios de estupor. Introduz o gosto dos gozos celestes. Exemplos de músicas gregorianas no sétimo modo incluem:
• Victimae Paschali Laudes (versão do modo VII)
• Christus Factus Est (versão do modo VII)
• Veni Creator Spiritus (versão do modo VII)
• Ubi Caritas et Amor (versão do modo VII)
• Ad Regias Agni Dapes (versão do modo VII)
• Pange Lingua Gloriosi (versão do modo VII)
• Vexilla Regis (versão do modo VII)
• Veni Sancte Spiritus (versão do modo VII)
• O Gloriosa Virginum (versão do modo VII)
• Ave Regina Caelorum (versão do modo VII)
Modo VIII – Perfectus
O oitavo modo é chamado de “perfeito”, talvez pela plenitude que simboliza, representado pelo número oito. É suntuoso, opulento e de real plenitude. É solene, triunfal, leve e recolhido, sem fragilidade. É capaz de ser implorante sem fechar-se em si mesmo. Seus tons impecavelmente nobres o tornam quase universal, sem pontos fracos ou lacunas. Exemplos de músicas gregorianas no oitavo modo incluem:
• Kyrie Eleison (versão do modo VIII)
• Christus Factus Est (versão do modo VIII)
• Gloria in Excelsis Deo (versão do modo VIII)
• Sanctus (versão do modo VIII)
• Agnus Dei (versão do modo VIII)
• Veni Creator Spiritus (versão do modo VIII)
• Te Deum Laudamus (versão do modo VIII)
• Salve Regina (versão do modo VIII)
• Ad Regias Agni Dapes (versão do modo VIII)
• Jesu Redemptor Omnium (versão do modo VIII)
Alma, Ressonância e Harmonia
O canto gregoriano é uma rica tradição musical que atravessou os séculos e ainda hoje encanta e emociona com sua beleza e profundidade espiritual. Cada modo possui sua própria atmosfera e estilo, refletindo as diversas emoções humanas e a busca pela conexão com o divino.
Nessa riqueza musical, o canto gregoriano se conecta com a alma humana em suas diversas nuances e necessidades espirituais; através da harmonia das melodias e da escolha cuidadosa de cada modo para expressar diferentes estados de Alma, nosso ser é tocado, elevando-nos acima das preocupações mundanas e conduzindo-nos a estados de espírito mais elevados.
O gregoriano nos mostra de modo claro a ressonância que há entre a música e a Alma humana, a harmonia entre o homem e a criação, para que, através dela, possamos purificar nossa mente e coração e possamos chegar até Deus.