Na manjedoura do presépio se encontra um menino que é para todos, símbolo de contradição. Como poderia um Deus se encarnar em algo tão frágil? O Criador das potências cósmicas, sujeito a contingência de suas próprias criaturas? Mais ainda, o menino que nasceu para reestabelecer a ordem da graça e da paz, promovendo a guerra como Ele mesmo o diz “Não vim trazer paz, mas a espada” (Mt. 10:34) ?
Meditar sobre o recém-nascido que se encontra na manjedoura pode dar-nos a resposta às convulsões em que nosso século está imergindo.
A Briga de irmãos

Em maior ou menor grau todos nós somos irmãos. Todo aquele que possui a natureza humana o possui porque ela foi transmitida. Ora, essa transmissão é justamente o vinculo de paternidade e filiação. Todos nós carregamos em nossa natureza a soma de todos os nossos antepassados; desse modo, em maior ou menor grau, todos somos irmãos pela filiação por que esta provém da mesma paternidade.
Vemos logo depois da perda da Justiça original, a narrativa de um fato que é uma das mais trágicas consequências do pecado original: a guerra.
Mal saiu o homem e a mulher do paraíso, Caim mata seu irmão Abel. O primeiro simboliza o mal e o segundo o Bem. Esse fato ocorrido entre os irmãos já é o embate da guerra justa posta por Deus entre os filhos da Mulher e os da serpente (Gen. 3:15).
A triste consequência do Pecado original é a de, numa mesma família, com a mesma formação, o mesmo lar, etc., nascerem duas escolhas no coração dos homens: pertencer à raça da mulher ou se tornar vil e pertencer à raça da serpente. A escolha definirá o coração.
Essa diferença de corações, de espírito, de mentalidade, de proceder é a causa da guerra.
Vemos continuamente os irmãos entrarem em guerra, povos de mesma origem brigando por terem concepções diferentes: Abel contra Caim, judeus contra árabes, ucranianos contra russos, taiwanês contra chineses, etc.
Mas por quê? Será que há razões que justifiquem a guerra?
Paz autêntica e a falsa paz dos acordos diplomáticos

Há motivos para a guerra lícita e justa, como também motivos para se evitar a guerra. Uma guerra deve ser evitada a todo custo, entretanto há situações que ela se torna inevitável.
A guerra é lícita quando o bem deve ser defendido e o mal deve ser esmagado. Discernir o bem a se preservar numa guerra pode se tornar algo difícil quando os discursos ambíguos puxam a interpretação dos “lados” para o nível subjetivo. Do mesmo modo, os acordos diplomáticos são falsas promessas de paz uma vez que não se baseiam na unidade dos espíritos e das consciências nos valores eternos, mas em interesses que quase sempre são o início e a causa de quase todas as guerras ilícitas.
A história ratifica nossa afirmação; por exemplo, os acordos de Munique (1938) que, na tentativa de uma falsa paz, os países envolvidos venderam-se com diplomacias, especialmente Chamberlain (primeiro ministro do Reino Unido na época) a ponto de Winston Churchill dizer a seu respeito quanto a este “acordo”: “Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”. Vale lembrar que em 10 de maio de 1940, Chamberlain renunciou ao cargo de primeiro-ministro, sendo substituído por Winston Churchill.
Os homens querem poder, dinheiro, fama, reinos, terras, prestígios… Encontramos a raiz da guerra ilícita: os sete vícios capitais.
A soberba de ser o primeiro, a avareza de tudo possuir, a luxúria de tudo gozar, a ira contra aquilo que nos corrige, a inveja contra aquilo que deveríamos admirar, a gula de tudo abarcar e a preguiça no querer ser sempre servido, sem nunca servir, são os motivos de todas as guerras ilícitas.
Na maior parte das vezes, os acordos diplomáticos internacionais atrasam a guerra, criam uma falsa atmosfera de paz e uma falsa expectativa de unidade. A paz autêntica não está nisso, mas no oposto disso.

A causa da guerra justa é precisamente defender os princípios da verdadeira paz. Aprende-se a lutar, não para lutar, mas para defender-se. As nações possuem exércitos não para se aniquilarem umas as outras, mas para demonstrar sua soberania, sua honra.
Onde há honra, há gente preparada para a guerra justa e, onde há guerra justa, há verdadeira paz como fim. Tais homens sabem o porquê estão lutando e com certeza desejariam que todos tivessem e mantivessem seus bons princípios para não terem que entrar no morticínio que é toda a guerra independentemente se é licita ou não.
O princípio da paz é a guerra justa
