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Helen Keller: Educação Especial ou Inclusiva?

Nosso século poder-se-ia chamar-se o tempo dos “pré-conceitos”, pois ao invés de tratarmos de frente com situações difíceis os termos complexos, nos escondemos atrás de discursos vazios para sermos “socialmente” aceitos. O fato é que, quando tomamos esta posição os termos perdem sua precisão, a razão seu propósito e as ações aumentam o fluxo do problema. Tratar de Educação nunca foi fácil, mas temos que olhar ao passado e aprender com nossos erros e acertos. A história de Helen Keller tem pela raridade de seu caso, muito a ensinar aos alunos e aos educadores. Ao olharmos a vida de Helen Keller chegamos ao título desse nosso artigo, afinal o que fez com que uma menina cega, surda e muda superasse todas as suas barreiras, saindo do isolamento completo de seu mundo interior, para se conectar à realidade? Como ela conseguiu em um segundo momento fazer a este mundo exterior tão assustador e feroz à sua condição, não apenas conhecê-la, mas respeitá-la em sua dignidade humana? Seria Helen Keller fruto de uma educação especial ou inclusiva?
Helen Keller (à esquerda) e Anne Sullivan (à direita)
Diferença entre Especialidade e Inclusão
A palavra “especial” em quase todos os idiomas possui um duplo sentido, mas com o mesmo “termo intuitivo” que dá o significado-real: O termo de significado seria “raridade, escassez”. Ora, esse significado pode ser entendido em dois sentidos, ou é uma raridade boa, são os gênios ou uma raridade ruim, são os casos mais problemáticos.
Por outro lado, a palavra inclusão possui um significado com sentido próprio, sem muita margem pra interpretação subjetiva, que é “incluir, por para dentro”.
A realidade da Educação
Aqueles que tiveram a experiência de pisar em uma sala de aula tanto como aluno, mas principalmente como professor, sabem dos desafios que envolvem a educação. Talvez o principal deles seja a capacidade do aluno de mapear seu mundo interior, perceber de modo real e não apenas ilusório o mundo exterior e, de um modo ou de outro, fazer uma ponte entre a interioridade-subjetiva e a exterioridade-objetiva. O trabalho do professor é apenas facilitar isso. Remover os obstáculos interiores e exteriores de seus alunos para que deem frutos.
Entretanto, devido a condição física, mental ou espiritual do aluno, ele acaba por entrar no sentido ruim do significado de “especial”.
Nesse cenário foi proposta a palavra “inclusão”, contudo, como tratar algo “especial” (mau sentido), sem uma metodologia “especial” (bom sentido)? Incluir algo especial no ordinário, na normalidade estatística é no fundo matar os gênios.
Aqui chegamos no ponto interessante em que Helen Keller é a maior prova de sucesso: Na verdade todo especial-ruim, pode realizar seu potencial e tornar-se especial-bom e vice versa; em outras palavras, com o cultivo certo, os mais problemáticos podem tornar-se os gênios de uma geração e, os gênios, sem a educação própria à sua envergadura, podem definhar e se tornarem problemáticos.
Sócrates e seus alunos (Johann Friedrich Greuter - Séc. XVII)
Educação Especial ou inclusiva?
A Educação tanto para os gênios quanto os problemáticos possuem padrões muito semelhantes porque algo análogo acontece nesses dois extremos-complementares assim como no coração dos apaixonados como narram os melhores poetas: É o paradoxo dos opostos. O amor está para a loucura, assim como a genialidade está para a bestialidade e vice-versa. Se não há uma virtude, uma força estruturante capaz de moldar tais personalidades se verá a acentuação desse paradoxo.
Tendo isso posto, a primeira característica da educação dessas pessoas é o “agrupamento de semelhantes”, não uma inclusão; entretanto seria errado falar “exclusão” uma vez que, tendo eles passado pelo processo, faz-se necessário e é um dever irrevogável a reintegração dessas pessoas no cenário que conhecemos como “normalidade”.
O agrupamento de semelhantes é uma concentração de foco. Tendo todos, características semelhantes, não só a atitude do educador será assertiva, sem dúvidas ou balanceamento com gênios diferentes, como, entre os educandos, terá ajuda mútua, na medida em que eles se esclarecem.
Esse é o cenário em que fica mais patente a frase de Sócrates, apesar de aplicar-se a todos nós humanos: “Conheça-te a ti mesmo!”.
O milagre de Anne Sullivan
A Educadora Anne Sullivan tinha como segunda natureza todos os pressupostos que ponderamos até aqui. Ao conviver com a pequena Helen logo percebeu toda a dificuldade e todo o potencial. Anne Sullivan também era deficiente; havia sido quase cega.
Nascida em Massachusetts no dia 14 de abril de 1866, Johanna Mansfield Sullivan Macy (Anne Sullivan), foi uma educadora estadunidense (professora norte-americana), mais conhecida por ter sido a professora de Helen Keller, a quem ensinou por meio da língua de sinais, por intermédio do tato.
Anne Sullivan
Depois de recuperar sua visão por meio de uma série de operações e de se graduar como a oradora da sala em 1886 no Instituto Perkins para Cegos, ela começou sua longa carreira como professora de Helen Keller.
Quando a senhorita Sullivan chegou, Helen tinha sete anos e era completamente indisciplinada. Começaram então suas aulas a partir da obediência e do alfabeto ASL Língua de Sinais. Sullivan assistiu às aulas com Helen e monitorou-a por intermédio do Instituto Perkins, a Escola de Cambridge para Jovens Senhoras e a Faculdade de Radcliffe.
Na primeira visita, logo que se conheceram, Anne reparou que a menina carregava uma boneca. Segurou então a pequena mão de Helen escreveu com o dedo na palma a palavra “b-o-n-e-c-a”. Sem saber que cada objeto tinha um nome, Helen não entendia nada e se frustrava a cada nova tentativa.
Suas reações foram ficando cada vez mais violentas, até que um dia explodiu de raiva e destruiu sua boneca. Foi então que Anne teve a ideia de colocar a mão de Helen sob a água e escrever em sua palma “a-g-u-a”.
Foi como se a porta da prisão finalmente tivesse se aberto. A partir deste dia uma obsessão tomou conta de Helen que agora reconhecia uma lógica e queria aprender todas as palavras do mundo. Helen Keller aprendeu inglês, francês e alemão. Anos perdidos eram recuperados com a maior velocidade possível e a comunicação entre as duas crescia a cada dia.
Anne ensinou Helen a “ouvir”, colocando seus dedos sobre sua garganta, lábios e nariz. Associava vibrações e palavras.
Seu tato se desenvolveu a um patamar sofisticadíssimo, capaz de diferenciar as mais sutis diferenças. Ficou proficiente em braile e em linguagem de sinais na palma da mão.
Todos que entraram em contato com Anne Sullivan se surpreenderam com a facilidade de comunicação e ensino para Helen e com o aprendizado avançado da aluna em relação a outros alunos cegos e surdos mais adiantados do que ela.
Entretanto, ao longo do tempo, muitos duvidaram das intenções de Anne Sullivan como professora de Helen. Achavam que ela queria controlar Helen Keller.
Após Helen se formar, a senhorita Sullivan continuou a acompanhá-la em suas viagens e palestras. Quando Helen se formou em Radcliffe, Anne se casou com um jovem instrutor de Harvard, John Albert Macy em 1905. Os três viveram juntos até 1912 quando os Macy se separaram.
Anne e Helen tinham uma grande demanda de palestras para arrecadar fundos para a Fundação Americana para Cegos. No entanto, por vezes, as pessoas eram caridosas e complementavam sua renda.
Ao final de sua vida, Anne Sullivan recebeu o reconhecimento da Universidade Templo, o Instituto Educacional da Escócia e a Fundação Memorial Roosevelt, pelo ensinamento a Helen Keller. Faleceu em 20 de outubro de 1936.
Helen Keller e a Educação Especial
Nascida em Tuscumbia (Alabama- EUA) em 27 de junho de 1880 foi escritora, conferencista e ativista social norte-americana. Foi a primeira pessoa surdocega da história a conquistar um bacharelado.
Em 1886, sua mãe, inspirada pelo relato de Charles Dickens em American Notes a respeito da educação bem-sucedida de outra mulher surda, Laura Bridgman, despachou a jovem Keller, acompanhada de seu pai, para ver o médico J. Julian Chisolm, especialista em olhos, ouvidos, nariz e garganta, em Baltimore, em busca de aconselhamento. Chisolm encaminhou os Kellers para Alexander Graham Bell, que estava trabalhando com uma criança surda na época. 
Helen Keller (à esquerda) e Anne Sullivan (à direita)
Bell, por sua vez, os aconselhou a contratar a Perkins Institute for the Blind, localizada em South Boston (existente até hoje, sendo a mais antiga escola para cegos dos Estados Unidos).
Michael Anagnos, diretor da escola, solicitou à ex-aluna, Anne Sullivan, ela própria uma pessoa com deficiência visual, para tornar-se instrutora de Helen. Este foi o início de uma relação de 49 anos durante a qual Sullivan tornou-se professora e acompanhante de Keller.
Helen Keller (1904 - Bacharel em Filosofia)
Em 1902 estreou na literatura publicando sua autobiografia A História da Minha Vida. Depois iniciou a carreira no jornalismo, escrevendo artigos no Ladies Home Journal.
Em 1904 graduou-se bacharel em filosofia, como membro da Phi Beta Kappa do Radcliffe College, instituição que a agraciou com o prêmio destaque ao aluno, no aniversário de cinquenta anos de sua formatura, tornando-se a primeira pessoa surdo-cega da história a conquistar um bacharelado.
Ao longo da vida foi agraciada com títulos e diplomas honorários de diversas instituições, como a universidade de Harvard e universidades da Escócia, Alemanha, Índia e África do Sul.
Em 1952 foi nomeada “Cavaleiro da Legião de Honra da França”. Foi condecorada com a Ordem do Cruzeiro do Sul, no Brasil, com a do Tesouro Sagrado, no Japão, dentre outras. Foi membro honorário de várias sociedades científicas e organizações filantrópicas nos cinco continentes.
Sublime Mensagem: Grandeza interior ou vaidade?
Keller morreu aos 87 anos, enquanto dormia, às 3h35 de 1º de junho de 1968, em sua residência em Easton, Connecticut, dias após sofrer um ataque cardíaco. Após a realização do funeral, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram depositadas na Catedral Nacional de Washington próxima as de Anne Sullivan e Thomson.
Pouco antes de morrer, Keller exclamou: “Nestes anos sombrios e silenciosos, Deus tem usado minha vida para um propósito que eu não conheço, mas um dia eu o entenderei e depois ficarei satisfeita […] Aquilo que eu procuro não está lá fora, mas sim dentro de mim”.
As últimas palavras daquela que viveu no escuro e no silêncio de seu interior devem ecoar no coração de todas as pessoas que buscam a luz e a voz de Deus, Ele fala em nosso interior e, entrar em contato com ele é achar a própria luz e a própria voz!
Helen Keller é a personificação do Mito da Caverna de Platão, pois apesar de sua condição ela escolheu ver a luz do que torna as coisas inteligíveis e prestar atenção na voz silenciosa Daquele que fala não com sons, mas através dos corações.
Este é o método especial! O método que faz os alunos florescerem, a Escola do Divino Mestre: Ser a voz silenciosa e a presença que torna claro os espíritos confundidos pelas trevas. Antes da transmissão de informação, do domínio da técnica e da execução corpórea, está a modelagem das personalidades, a formação do caráter, o domínio do temperamento, o balanceamento do fundo vital.
Sem isso não há informação que forme, técnica que dê o domínio e corpo que execute com virtuosismo! A boa base-filosófica, com os princípios universais deve ser o alicerce de nossa concepção de Educação, desfazendo todas as falsas concepções e embrutecimentos das Almas. Que todos que chegaram ao final dessas linhas saiam cheios dos “pré-supostos eternos” e vazios dos “pré-conceitos do tempo”…
Bibliografia:
  • Helen Keller Internacional: https://helenkellerintl.org/
  • Brady, Nella, Anne Sulivan Macy. 1933
  • Hickok, Lorena A., O Toque de Magia; a história da grande professora de Helen Keller, Anne Sullivan Macy. Nova York: Dodd, Mead, 1961.
  • Lash, Joseph P. Helen e Professor: A História de Helen Keller e Anne Sullivan Macy. 1980
  • Selden, Berenice. A história de Annie Sullivan, professora de Helen Keller. Nova York: Dell Pub., 1987.
  • Fundação Americana para Cegos (AFB) – Anne Sullivan Macy: Milagrosa